Associação Dos Proprietários de barranco de Serra Pelada. CNPJ:04.000.912/0001-14 Curionópolis-PA Fundada em 20/8/2000
"Não existe corrente forte com elos fracos"
sábado, 7 de setembro de 2013
Assassinatos marcam retomada da exploração de ouro em Serra Pelada
No período em que a Colossus, com sede em Toronto, no Canadá, fechou contrato com cooperativa local de garimpeiros para reativar a mineração, houve três execuções, um suposto suicídio e tiroteios, além de intervenção de coronel que fora agente do SNI
A violência marcou o período em que a empresa Colossus Minerals Inc., com sede em Toronto, e a Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp) fecharam contrato para explorar ouro no local. Houve três assassinatos, um suposto suicídio, tiroteios e a intervenção de um ex-araponga indicado pelo então ministro, hoje senador, Edison Lobão (PMDB-MA).
O Estado revelou ontem que o grupo de Lobão montou um esquema com empresas de fachada e caixa 2 e tomou o controle da Coomigasp para garantir a exclusividade na exploração do ouro subterrâneo da jazida, localizada no município de Curionópolis, na região sul do Pará.
Um dos assassinatos ocorreu em maio de 2008. A execução do sindicalista Josimar Barbosa, presidente afastado da Coomigasp e rival do grupo ligado a Lobão, facilitou o avanço da Colossus. Morto com 13 tiros por dois motociclistas até hoje não identificados, Barbosa tinha obtido na Justiça o direito de voltar ao posto.
À época, a Coomigasp estava sob controle de Valdemar Pereira Falcão, um dos aliados de Lobão. Na Justiça, Josimar alegou que o rival havia sido eleito em uma assembleia sem quórum. O argumento funcionou, mas a liminar não chegou a ser cumprida. Houve o assassinato.
Associados passaram a apontar o grupo de Valdemar como culpado. A contenda enfraqueceu a turma ligada a Lobão. Fragilizado, em outubro de 2008 Falcão pediu à Justiça do Pará que determinasse intervenção na Coomigasp. A desembargadora Maria Rita Lima Xavier aceitou o pedido e coube a Lobão, à época ministro de Minas e Energia, indicar o interventor. A parceria com a Colossus seguiu firme.
Velho amigo: Lobão indicou como interventor um velho amigo, o coronel da reserva do Exército Guilherme Ventura, ex-agente do Serviço Nacional de Informações (SNI). Ele fora secretário de Segurança Pública do governo de Lobão no Maranhão, em 1993 e 1994, e tem no currículo ações de repressão a movimentos de posseiros.
Quando Ventura apareceu no garimpo, em 2008, a Colossus tinha fechado o primeiro contrato com a Coomigasp, que garantia à empresa participação de 51% na sociedade para extrair ouro.
Ventura enviou ofício à Justiça propondo varrer o povoado de Serra Pelada, transferindo os 7 mil habitantes para outra área. Fez uma lista de supostos criminosos do garimpo - todos contrários ao acordo com a Colossus.
Um dos mais destacados opositores do acordo com a empresa morreu em fevereiro de 2009. O corpo de José Ornédio de Lima, o Zé da Padaria, de 46 anos, e 0 da sua mulher, Vânia, foram encontrados no casebre em que viviam. A polícia concluiu que Vânia, em depressão, teria matado o marido e depois se suicidado.
A versão é contestada pelos antigos aliados de Zé da Padaria, também acusados de violência. Integrante de uma caravana de Imperatriz (MA) escalada para defender o contrato com a Colossus, Manoel Batista Oliveira morreu quando o ônibus em que viajava foi alvejado por atiradores, perto da entrada do garimpo.
Assessor eleito: Em janeiro de 2009, Ventura conduziu uma eleição para escolher o novo presidente da Coomigasp. O vencedor foi Gessé Simão, ex-vereador de Imperatriz e homem de confiança de Lobão, que nos anos 1980 assessorou o ex-deputado e ex-prefeito de Imperatriz Davi Alves Silva - assassinado em 1992.
Foi com Gessé no comando da cooperativa que a Colossus conseguiu fechar, em setembro de 2009, um aditivo aumentando para 75% a sua participação no negócio. Dois meses depois, o presidente da Coomigasp disse aos associados que haviam sido feitas "alterações" no contrato. Elas foram aprovadas por unanimidade.
Para lembrar: O senador Edison Lobão (PMDB-MA) atuou em várias frentes pela reabertura de Serra Pelada. Primeiro, articulou para formalizar a Coomigasp como proprietária do garimpo. Em 2007, ele conseguiu que o governo convencesse a Vale, até então detentora da mina, a transferir à cooperativa os seus direitos de exploração no local. Em 2009, já com Lobão ministro de Minas e Energia, a Vale cedeu à Coomigasp mais 700 hectares de área.
Na sequência, garimpeiros ligados a Lobão assumiram a entidade em um processo conturbado e violento. Nessa época, foi fechado o contrato entre a cooperativa e a empresa canadense Colossus, constituída por um emaranhado de pessoas judídicas, mas, na prática, controlada por brasileiros com ligações estreitas com o próprio Lobão. A Vale afirma não se interessar pela exploração da área.
Esquema de Lobão paga R$ 900 a 96 garimpeiros
Recursos são repassados pela Colossus, por meio de cooperativa de Serra Pelada, como 'ajuda social' aos moradores
A estratégia do grupo do senador Edison Lobão (PMDB-MA) para se apossar do ouro de Serra Pelada inclui o pagamento de um benefício mensal no valor de R$ 900 para 96 pessoas que vivem na área da antiga mina.
O esquema, batizado de "mensalinho da Serra", é alimentado por recursos repassados pela empresa Colossus à Cooperativa Mineral dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp).
A reportagem teve acesso a uma lista com nomes de beneficiários do mensalinho. Procurado para falar sobre o pagamento das mesadas, o diretor social da Coomigasp, Carlos Jovino, confirmou os repasses, que chamou de "contribuições".
"A empresa repassa o dinheiro como ajuda social", disse Jovino. "Esse dinheiro não é dinheiro garantido por contrato, a empresa que está dando uma ajuda mesmo."
Os beneficiários do esquema não prestam serviço à cooperativa. Eles só comparecem na Coomigasp uma vez por mês para receber a mesada.
Ex-diretor da entidade e um dos opositores do grupo de Lobão, o sindicalista Edinaldo Aguiar diz que o esquema de mesadas foi a forma encontrada pela empresa para conseguir calar os garimpeiros que costumavam ter um posicionamento crítico dentro da cooperativa.
Assistencialismo: A empresa canadense recorreu a velhas práticas assistencialistas e políticas para ganhar a confiança e a simpatia dos garimpeiros, trabalhadores reconhecidos pela postura independente e o temperamento arredio.
Além do "mensalinho", a Colossus realizou, até agora, três festas para distribuição de cestas básicas a famílias do povoado onde está a mina.
Além disso, para amainar a poeira do começo da tarde nas ruelas de Serra Pelada, paga uma empresa de caminhões-pipa para esguichar água sobre o chão batido.
O diretor da Colossus Darci Lindenmayer diz que a empresa é apenas uma "aliada" da prefeitura na distribuição de cestas básicas. Lindenmeyer afirma que a empresa já gastou R$ 800 mil em "ações sociais" na área do projeto. Ele diz, orgulhoso, que a ação social da Colossus vai muito além das cestas. A empresa, observa, reformou o hospital de Curionópolis, o posto de saúde e a Escola Maria Antônia Pimenta de Moura, em Serra Pelada.
Novo escritório: Quem anda pelo antigo garimpo, porém, tem outra impressão da chegada da empresa ao lugar. A Escola Municipal Novo Morumbi foi fechada pela prefeitura e repassada para a Colossus, que deverá aproveitar a estrutura para instalar um escritório.
Desde o declínio do garimpo de Serra Pelada, no final dos anos 1980, os moradores do povoado não têm alternativas de renda e emprego.
A exploração do ouro depende do processo de mecanização. Mesmo assim, ainda hoje, dezenas de garimpeiros tentam encontrar o metal na superfície, de forma manual.
Para aprovar acordo, promessas e orações
Empresa foi apresentada como gigante canadense que queria investir no Brasil
A assembleia que aprovou o contrato com a Colossus se deu em meio à disputa pelo comando da cooperativa dos garimpeiros. A reunião, em 5 de julho de 2007, foi convocada pelos líderes garimpeiros ligados ao senador Edison Lobão. Era o prazo final para que as empresas interessadas em se associar à cooperativa apresentassem as propostas.
Estava tudo combinado. Garimpeiros concentravam-se num galpão próximo à mina quando apareceu a única proposta, levada por uma figura até então desconhecida na área, o geólogo Heleno Costa, representante da Colossus. A empresa foi apresentada como uma gigante canadense que queria investir no Brasil.
O vídeo da reunião - que virou DVD e é vendido em um boteco do garimpo, junto com cópias de documentários sobre a história de Serra Pelada - mostra o esforço do grupo de Lobão para aprovar a parceria. Do tablado da assembleia, microfone à mão, eles apelavam a discursos emocionados. Puxavam até orações em prol do negócio.
O contrato, diziam, seria a tábua de salvação para milhares de garimpeiros pobres que ainda sonham em mudar de vida graças ao ouro.
Parte da plateia era de supostos garimpeiros levados do Maranhão em caravanas lideradas por Gessé Simão, o atual presidente da Coomigasp e um dos mais fiéis aliados de Lobão no garimpo.
Ao longo do tempo, a lista de associados foi sendo inflada com migrantes pobres do interior maranhense, Piauí e até do Entorno de Brasília.
Em 2006, cerca de 4.500 garimpeiros estavam no cadastro da cooperativa. Atualmente, esse número chega a 43 mil pessoas.
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