clima de insatisfação em Serra Pelada continua. Garimpeiros se dizem ofendidos com a postura da empresa canadense, Colossus, responsável pela implantação do projeto de mineração. A falta de transparência na gestão do contrato e a má postura da cooperativa que os representa, a Coomigasp, fazem parte da enorme lista apresentada por eles.
“Estão tomando o que é nosso”, desabafou Antonio Benício, popular Ceará, garimpeiro de 84 anos de idade, e mora ali há mais de 30 anos.
Ele diz que os velhos garimpeiros estão na pior tristeza e explica que resiste ali todo este tempo em um casebre sem a mínima qualidade de vida sobre a mina mais rica do mundo e precisa ter direito. “Tudo o que eu tinha gastei aqui neste garimpo, e hoje espero a recompensa”, desabafa Ceará, que perguntado se acredita que agora os garimpeiros vão de fato receber sua parte diz: “Estão comendo tudo o que é nosso por aí, mas Deus é um bom pai e quem sabe não surge alguém para advogar nossa causa. Para mim a Colososus não está com nada, não adiantou esta parceria. Não tenho nenhuma esperança! Dependendo dela ou da Vale”. Ele diz ter ouvido de um gerente da Vale que os antigos garimpeiros vão sair sem direito algum.
Outro garimpeiro ouvido, Raimundo Alves Feitosa, explica que os 100 hectares que os garimpeiros pensam ser destinados aos filiados à Coomigasp foram vendidos há quase dois anos atrás por R$ 200 milhões e deste valor já foram pagos R$ 80 milhões; valor rateado, segundo Raimundo Alves, entre diretores da Cooperativa, Valdé, Jessé Simão, o advogado da entidade, Jairo, o então prefeito de Curionópolis, Sebastião Curió, entre outros nomes influentes na “luta” pelo garimpeiro.
Motivo que levou os garimpeiros a pedir a retirada das máquinas que trabalhavam na instalação do projeto. As máquinas foram retiradas, os trabalhos de sondagem foram parados recentemente e retomado por força policial e não judicial.
Segundo Raimundo esta afirmação foi feita recentemente por um diretor da Colossus, de prenome Daci, que se sentindo pressionado em uma reunião com os garimpeiros deu esta informação concluindo que os garimpeiros não têm mais nada ali.
José Mariano dos Santos, o conhecido Índio, garimpeiro com longo histórico de bamburros, explicou sobre os percentuais que devem ser repassados para os garimpeiros de Serra Pelada. Para ele o que está acontecendo é uma falta de esclarecimentos entre Coomigasp e garimpeiros. “A Colossus deveria chamar os dirigentes, como Jessé Simão e Jairo, e dar um acocho neles, pois eles estão fazendo tudo por baixo dos panos; a mineradora está investindo no garimpo e neles, e estes, os diretores da Cooperativa, agem de má fé com os associados”, orienta Índio, sugerindo a realização de uma assembléia para esclarecer todos os pontos do contrato e acordo, detalhes que, segundo ele, o garimpeiro não tem conhecimento algum.
Perguntado se há alguma irregularidade no contrato Índio afirma que sim e diz que a cooperativa conta com aproximadamente 43 mil associados o que torna fácil para que a entidade iluda os, maioria, de pouca informação cultural. “A Colossus está errada por fornecer o dinheiro para a entidade sem esclarecer aos sócios através de assembléias”, pede Índio.
Quanto ao percentual de participação dos garimpeiros, que caiu de 49% para 25%, ele diz que as perdas não param por aí, pois os documentos deixam claro que outras fatias ainda serão tiradas da parte dos associados. Índio confirma o que disse Raimundo Alves sobre a venda da área: “O próprio Dr. Daci esclareceu em reunião, quando foi pedida a paralisação das obras de instalação do projeto, que tudo o que é nosso já foi vendido e parcialmente pago”.
Para Índio “a Coomigasp é uma entidade que usa o nome do garimpeiro para benefício próprio e nenhum dos mais de 15 presidentes, que esteve em seu comando, trouxe benefício para a classe ou a comunidade. Para a Coomigasp o sócio é descartável”. Sobre a seqüência da parceria Coomigasp & Colossus ele diz que dá pra acertar o passo e rever pequenos detalhes. Índio alerta para que haja informações verídicas, pois, segundo ele, os boatos são muitos e alvoroçam o povo que não tem resposta concreta de nenhum dos responsáveis.
Etevaldo Arantes, membro do Movimento dos Garimpeiros e Trabalhadores em Mineração (MTM), diz que a mina de Serra Pelada só funcionará de forma correta se beneficiar o garimpeiro. “Desde que foi feita esta parceria com a Colossus que a maioria, principalmente os moradores de Serra Pelada, tem demonstrado insatisfação com o percentual que será recebido pelos garimpeiros”, afirma Etevaldo, justificando que a perca dos percentuais majoritário tirou dos associados da Coomigasp o direito à decisão.
Etevaldo lembra que quando feita a proposta de 49% era ela livre e a Colossus ainda lavaria a montoeira repassando 100% para os garimpeiros. Ele explica que o problema do contrato foi que neste reza que a Coomigasp investiria valores iguais a Colossus e como a mineradora investiu mais R$ 12 milhões adquiriu outros 24% do percentual que seria dos garimpeiros. “Isto significa que quando ela investir mais adquirirá mais percentuais. Isto é um processo diluitivo do patrimônio dos garimpeiros”, diz Etevaldo.
Ele acha curioso é que em oito anos a Colossus retirará 33 toneladas de ouro usando toda tecnologia disponível e usando apenas pás e picaretas os garimpeiros retiraram e venderam oficialmente 43 toneladas. E compara o que está acontecendo em Serra Pelada com o que aconteceu na África do Sul, quando os holandeses tomaram o ouro e os ingleses os diamantes do povo dali na época da colonização. Outro fato ilustrado por ele é o apartheid, criado pelo fato de que a Colossus tenha contratado estrategicamente os filhos dos garimpeiros, de adolescentes a jovens, em um período de apenas 60 a 90 dias e assim eles batem de frente com os sonhos dos pais e familiares. “A necessidade do filho, neste momento, bate de frente com a luta e os anseios dos pais. Isto cria uma situação de apartheid nas famílias”, lamenta Etevaldo, dando conta de que por R$ 900 por mês, sem carteira assinada, várias pessoas, maioria menor de idade, está a disposição para aplaudir os diretores da cooperativa e autoridades políticas quando estes, raramente, aparecem no distrito de Serra Pelada.
“Não tem como torcer a favor desta parceria Colossus & Coomigasp, pois isto é altamente pernicioso e prejudicial aos garimpeiros que moram aqui”, conclui Etevaldo.
Profundo conhecedor da causa, o advogado Rodrigo Maia Ribeiro, diz que as irregularidades no contrato são inúmeras e cita as principais. “Para isto temos que voltar em 2007 quando se contratou a empresa Colossus, quando já existia um contrato aprovado pelo garimpeiro entre a Coomigasp e uma empresa Fênix”, começa Rodrigo, que enumera: Fazer uma assembléia para desconstituir contratos anteriores, discutir os precatórios, trazer a população para o quadro social da cooperativa.
“Nada do acordado foi cumprido e isto já deixou muita gente com o pé atrás”, conclui Rodrigo, que lamenta o fato de que o contrato ora aprovado foi todo decidido por garimpeiros que não moram em Serra Pelada e trazidos para a assembléia votaram sem terem o menor conhecimento da situação. Ele garante que os garimpeiros que moram em Serra Pelada não têm culpa do que está acontecendo, pois a estes nada foi esclarecido. Ele assegura ainda que o contrato anterior, firmado entre Coomigasp & Fênix, não foi se quer destituído.
Tony Duarte, da Associação Brasileira dos Garimpeiros de Serra Pelada e Brasil (AGASP BRASIL), publicou no site da entidade:
“Desde o sete de maio para cá não está havendo clareza sobre como vai ser esse segundo momento da parceria Coomigasp & Colossus. Celaro não fala com ninguém. Aí o bicho pega. A comunidade garimpeira está aérea sobre pontos importantes que já deveriam ter sido informados e esclarecidos. Como fazer uma assembléia se as coisas não estão claras?
Tudo isso faz com que as entidades garimpeiras que sempre apoiaram a urgente implantação da mina de Serra Pelada, comecem a desacelerar com a mesma responsabilidade o mesmo processo. As entidades vão alem: solicitam de Gessé Simão, presidente da Coomigasp, prudência, cautela e pé no freio até que tudo volte a ser uma parceria segura, respeitosa e sem riscos”.
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